terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Conversas privadas ... em público


"Liberdade de imprensa" WeHaveKaosintheGarden

Sócrates foi almoçar, com Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e um executivo de televisão.
Na ementa um prato indigesto: Mário Crespo.
Já está quase tudo dito sobre esta palhaçada indecente.
Mas gostaria de abordar o tema de uma outra perspectiva.
O Governo, protagonista desta canalhice, falha de "calhandrice".
Até o ministro do malhão, que se esqueceu que agora é da Defesa, veio em defesa do Governo.
Analisemos então a escorreita interpretação de tão brilhante crânio:

«Ouvi alguém querer fazer um texto com base no que supõe serem informações que lhe tenham sido transmitidas (...)»

Mário Crespo fez um texto. (O "querer fazer" só existe na cabeça do malhão)
Com base em informações que lhe foram transmitidas. (O "tenham sido" só existe na cabeça do malhão)

«(...) acerca de conversas privadas, tidas em restaurantes, e eu acho isso absolutamente inacreditável»

Conversas privadas em restaurantes? Pelo PM e dois ministros?
O que é absolutamente incrível é que se pretenda ter conversas privadas num local público.
Ou havia um micro debaixo da mesa?

«Não sei como se consegue fazer informação a partir de intromissão em conversas privadas, seja de quem for».

Mário Crespo não fez "informação", escreveu uma crónica.
O que se passou depois é informação. Que desgosta ao Governo. Amanhem-se.
Mário Crespo nao se intrometeu em conversas privadas.
O PM e os dois ministros é que se intrometeram, vergonhosamente,na profissão de um jornalista.
E fizeram-no num local público.
Queriam que as paredes não tivessem ouvidos?
Azar.



« Evidentemente, não merece nenhum crédito. As fontes não são conhecidas»

Quem não merece nenhum crédito, desde há muito , é o ministro do malhão.
Quantas notícias são feitas diariamente sem as fontes serem divulgadas?
Aliás, o sigilo das fontes não faz parte das regras?

«Todos temos direito à privacidade das nossas comunicações»

Muito bem. Mas se as comunicações forem feitas de forma deliberadamente ostentatória e provocante em locais públicos quem está a ouvir é obrigado a ignorar as alarvidades que se digam?

«De uma coisa podem os senhores jornalistas estar seguros: enquanto político eu nunca me interessarei por conversas que jornalistas tenham numa mesa perto de mim, num restaurante onde possa estar»

Pois eu sugiro então um pequeno exercício à teoria do malhão.
Descubram o tasco onde o ministro almoça. Vão lá beber uma 'bejeca'.
E digam do ministro tudo o que bem entenderem.
Privadamente. De modo a que ele oiça.
Chamem-lhe palhaço. Doido. Digam que deve ser internado.
Nao tenham receio, afinal é uma conversa privada.
E uma conversa privada nunca pode ser ouvida.
Se o Governo diz que é assim é porque é assim.

4 comentários:

Jordão disse...

Nem mais!!!

Carlos Faria disse...

Brilhante post: irónico qb, divertido qb, esclarecedor qb.
Doa a quem doer

loirices disse...

Muito bom!

A ilha dentro de mim disse...

Mais certeiro que um morteiro este texto! Curisosamente, na gíria jornalística costumava dizer-se que quando os políticos querem que algo se saiba rapidamente falam disso num restaurante badalado... Terá Sócrates esquecido esta velha máxima ou será que o tiro lhe vai sair pela culatra?