sábado, 17 de maio de 2008

Judite Jorge sobre a polémica "povo açoriano"




Judite Jorge
Foto http://casteletesempre.blogspot.com


"Prefácio"

Quando ouvi esta crónica da Judite Jorge na RDP pensei (em tom de brincadeira)
"a Judite ainda se arrisca a ser convidada pelo José de Almeida para reactivar a FLA".
Pensei isto em tom de brincadeira, mas penso muito seriamente que esta aversão centralista em aceitar algo que não existe por decreto, apenas serve para reanimar esse espírito separatista.
Não navego e nunca naveguei nesses mares, mas confesso que é por estas e por outras que percebo cada vez melhor porque alguns açorianos se sentem espezinhados e respondem com o desejo de mandar o rectângulo para a outra banda.
É esse o efeito principal da "censura" ao "povo açoriano".
E agora cá vai então, com a devida vénia e autorização da autora, a transcrição da sua crónica sobre o "povo açoriano"


O que é um povo?

Um povo é um grupo de seres humanos unidos por um factor comum: nacionalidade, etnia, religião, língua, ou quaisquer outras afinidades históricas e culturais.

Ora, não passaria pela cabeça de ninguém dizer: os açorianos não são um povo.
Os açorianos são certamente um povo.
Um povo de mais de cinco séculos.

Exactamente com o o objectivo de assinalar os 500 anos do descobrimento dos Açores, o escritor terceirense Gervásio Lima publicou em 1928 o livro “A Patria Açoreana”. Pátria entendida como terra-mãe, terra onde se nasceu.

Segundo Gervásio Lima, o firme, leal e ousado povo açoriano conserva as virtudes ancestrais da raça e as qualidades da velha alma portuguesa.

Diz o escritor: o povo açoriano não se define pela diferença em relação aos outros portugueses.
Define-se exactamente por ser o lídimo representante do mais português, ancestral e elevado da alma da nação.

Outro escritor açoriano, Vitorino Nemésio, falou e escreveu sobre o Homem das ilhas e inventou o termo “açorianidade”.

Para Nemésio, o que faz um açoriano diferente dos outros portugueses não é a etnia nem sequer a história, mas as condições do meio natural. Isto é, a geografia moldou um tipo humano único e inconfundível.

Hoje, à luz dos estudos de genética dos Açores, até poderíamos reclamar diferenças étnicas, mas não vamos por aí.

Afirmamos apenas: há um povo açoriano desde há mais de cinco séculos.

No início desta crónica, escrevi que não passaria pela cabeça de ninguém dizer: os açorianos não são um povo. Mas fique o povo açoriano bem atento, bem alerta: há em Lisboa quem queira retirar a expressão “Povo açoriano” do estatuto político-administrativo dos Açores.

No presente estatuto dos Açores, está duas vezes escrita, e bem, a expressão “povo açoriano”. No futuro texto do estatuto, se nada fizermos, a expressão pode desaparecer.

Caso para perguntarmos: quem tem medo do povo açoriano?
Quem quer apagar a história dos Açores?
Quem quer praticar um genocídio cultural?

Desengane-se quem tenha tais intenções.

Estamos nas ilhas vai para seis séculos.
Atravessámos o mar e fixámo-nos aqui. Fazendo Portugal no Atlântico.
Daqui partimos para o mundo e levámos a açorianidade a todos os cantos da terra.
Aqui fomos pelo menos duas vezes mais portugueses do que os portugueses.
Aqui defendemos a nação.
Aqui vamos continuar.

E nós, povo açoriano, não vamos permitir que ninguém retire do estatuto dos Açores a expressão “povo açoriano”.

Nenhum de nós vai permitir, pois não?!

Judite Jorge

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito bom!