Vinha com um saco de livros.
5 livros, de autores açorianos, que me tinham custado 7,5 € na Feira do Livro.(1,5€ cada)
Quando reparei no homem, pensei de imediato que me ia pedir dinheiro.
Depois, por breves momentos, pensei que estava a ser preconceituoso.
Afinal o homem estava só ali parado, nem estava assim tão andrajoso.
Porque diabo haveria de me pedir dinheiro?
Mas afinal não me enganei mesmo.
- Oh amigo tem aí dois euros?
- Não.
E continuei, a resmungar para mim mesmo:
- Dois euros ? Já nem sequer se pede "uma moedinha", nem um euro. Pede-se logo 2 euros.
Eu não iria dar-lhe nada, nem que ele tivesse pedido apenas 50 cêntimos.
Mas assim, deu-me um bom pretexto para o ignorar.
"Vai trabalhar oh malandro".
Não. Não pensei nada disso. Sei lá se é um malandro.
O que sei é que já sou um "profissional" de cidade grande.
(Nestas coisas P.Delgada é ja uma metrópole)
Já reajo com a minha carapaça de indiferença.
Longe vão os tempos em que fui a Lisboa pela primeira vez e me impressionava com a frieza dos meus familiares que não se condoíam dos pedintes.
Hoje não dou "esmola" mas fico sempre a roer-me por dentro.
P.S. Nunca mais esquecerei uma vez que fui enganado por uma miúda em Lisboa.
A mãe estava doente. Não tinham comida. E eu, coração mole de gente das ilhas, que não estava habituado aquelas abordagens, dei-lhe "esmola".
Ela deu meia volta e foi comprar um gelado.
Primeiro fiquei furioso. Depois, mais calmo, pensei para mim mesmo: ela também tem direito a um gelado. E se não o teria de outra maneira, que fosse eu, mesmo involuntariamente, a proporcionar-lhe esse pequeno instante de prazer.
Se ela me tivesse pedido dinheiro para um gelado nunca lhe daria nada.
2 comentários:
Também já fui enganado umas quantas vezes, já deixei o coração mole.
Para compensar, nesta altura de fim de ano, dou o que posso a uma instituição. É impossivel dar a todos e ao menos sei que é bem empregue.
Haja Saúde
E a esmola era superior ao preço de cada livro...
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