Cavaco falou.
E uma parte do país ouviu (quantos?)
Enfastiadamente,entre uma garfada do que restava do almoço, ou uma dentada num bocado de bolo-rei.
Ou(viu) aos bochechos.
- Escuta, que queremos ouvir o que o homem diz.
- Agora é que ele vai dizer o que interessa - vaticinei eu.
- "Portugueses, não tenham medo".
- Eu não vos tinha dito? - exultei eu, enquanto mordiscava mais um sonho.
O que não vos disse ainda é que a mensagem de Cavaco me deixou cheio de medo.
E foi de meter medo. Ao mais optimista.
Mas podia Cavaco fazer um discurso optimista?
Em vez de dizer "não tenham medo" Cavaco deveria ter dito, como o anúncio, "tenham medo, tenham muito medo".
Há alturas em que é pior um optimismo desprevenido do que um pessimismo alerta.
Eu sei que esta conversa não se coaduna com alguém que tem um blog com o lema carpe diem, mas é assim que me sinto.
2010 começa com uma auto-estima muito baixa.
Mas, ainda, é possível dar a volta a isto.
P.S. Achei curioso o recurso a dois enquadramentos diferentes, durante a mensagem (acho que foi inédito), como se Cavaco fosse um apresentador de um noticiário televisivo que "joga" com diferentes câmaras.
Porquê?
Para quê?
Era para ficar mais bonito?
É mais importante a forma que o conteúdo?
Daqui a nada ainda vemos Cavaco, de pé, junto a um daqueles modernos dispositivos tácteis, à semelhança do que usam os meteorologistas...
-"Portugueses, a pobreza aumenta" (e nesta altura Cavaco tacteia uma foto de um sem-abrigo que se expande por todo o ecran)
-"Não tenham medo" (e nesta altura Cavaco volta a tactear o ecran, surgindo agora, a toda a largura, um português, com a cara de Valentim Loureiro, que bate no peito e vocifera: "Quantos são, quantos são?"
3 comentários:
Agora fiquei com imagem do Valentim na cabeça!
Este PR quando fala, faz-me desejar a monarquia.
Eh eh, muito bem observado!
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