quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Paciência !

Paciência.
Foi esta a primeira palavra de português que um alemão que veio residir para o Pico aprendeu.
E porquê? Porque era uma das palavras que ele mais ouvia às gentes do Pico. Sinal da sua resignação perante as contrariedades da vida, sobretudo quando não passava lancha ou avião, devido às más condições atmosféricas. Paciência, diziam as pessoas. Pacientemente. Resignadamente.
Não há mal nenhum em sermos resignados perante aquilo que não controlamos. É até um comportamento inteligente. Vamos todos morrer um dia. Paciência.
Mas já me preocupa a resignação perante outras situações. Perante as injustiças.
Há tempos argumentava com um picoense* , residente, que era inadmissível o que se passava com o impasse no abastecimento de combustível aos aviões no Pico, com os problemas por demais conhecidos. E ele, resignadamente, dizia: Paciência.
Ha dias em discussão, acalorada, com um familiar insurgia-me contra o facto de continuar a morrer gente "à míngua" no Pico ** ( e em outras ilhas "pequenas") devido ao deficiente funcionamento dos serviços de saúde, e ele dizia-me: Paciência.
Entre a resignação paciente e a interpelação consciente acho que o caminho só pode ser este último. Não podemos ficar muito satisfeitos por fazermos o nosso trabalhinho de forma honesta. Temos cada vez mais de questionar o que se faz de desonesto, sobretudo com dinheiros públicos.
Já não tenho idade nem pachorra para embarcar no "não quero saber".
Cada vez mais quero saber. Dá trabalho? Pois dá, mas este mundo não é apenas de alguns. É de todos nós, e todos temos direito a querer um mundo melhor. E para isso temos de ser mais exigentes mas também mais participantes. (Esse meu familiar defendia - e acho que não estava convicto do absurdo - que o "partido" da abstenção deveria ter direito a deputados !?)

(*) Ouvi há dias, num debate transmitido numa rádio do Pico, alguém defender que quem ama verdadeiramente o Pico é "picaroto" e que os "picoenses" são assim uma coisa hibrída e insonsa, pessoas que não gostam verdadeiramente da ilha do Pico. Eu não sei se sou "picoense" ou "picaroto". Mas sei que amo o Pico e que estarei sempre disponível para o defender em todas as circunstâncias, mesmo que haja ainda uns que querem ditar que só quem vive no Pico pode defender a ilha !? Os outros não têm esse direito. E pachorra para tanta tolice?

(**) Ouvi, mas não quero crer, que recentemente morreu uma pessoa no Pico com apendicite aguda !?

5 comentários:

Jordão disse...

Não podemos nem devemos ficar calados. Se os nossos pais sofreram tanto por termos liberdade não podemos desperdiçar essa liberdade! Como disseste e muito bem, esse mundo é de todos e não só de alguns. Infelizmente ainda temos que mudar muito para que isso seja real. Não basta ir-mos um domingo por ano (se bem que este ano vamos lá 3 vezes) por o nosso voto na urna! Há que ser muito mais activo e atento às muitas injustiças por esse mundo fora!
Força nessa luta companheiro! O Pico e os Açores precisam de mais gente como tu!

Cumprimentos

Anónimo disse...

Tudo certo. Mas gora "picaroto" é o que ama o Pico, e
"picoense" é o que se conforma, há que explicar bem.
Até digo mais "picaroto" é invenção literária de mau gosto, de fazer pouco, desdizer. Um miminho algo pejurativo.
Picoense é o adjectivo normal de quem vive no Pico. Eu sou picoense e não picaroto de qualquer coisinha

Anónimo disse...

O melhorar as coisas não depende de todos nós.
O melhorar não depende só de quem escolhemos para nos governar. Depende de todos.
Todos os açorianos tem por obrigação trabalhar para melhorarem as coisas e darem um futuro melhor às gerações que aí vem.

E se no lugar de protestar ou ter uma atitude conformista, cada um, dentro daquilo que pode, fizesse aguma coisa?

Afinal, caro Fiat, os seus protestos acontecem porquê?
Morreu de apendicite quem? Onde? Onde não foi atendido? O que foi que falhou?
Quem é que morreu à mingua devido ao deficiente funcionamento dos serviços de saúde no Pico? Quando.
Nomes!

È assim que resolvem coisas.

Anónimo disse...

Tem toda a razão.
Mas não me é fácil assumir esse papel no lugar das pessoas que vivem no Pico e sofrem na pele com estas situações.
Há no Pico jornais (3) e rádios locais (3)[sempre o síndroma dos 3]
e a rádio e televisão públicas também devem denunciar essas situações. No Pico, como no Corvo ou S.Miguel.

Fiat Lux

Anónimo disse...

Caro Fiat
Será que a denuncia pura e simples em meios de comunicação é a forma mais eficaz de se resolver os problemas?
Não terá este método o condão de por os responsáveis desconfiados, sem agir, atribuindo a razões politicas a denuncia?
Não será mais lógico dirigir-se aos rersponsáveis ou aos nossos representantes na ALRA, em quem votamos, e expor o problema?
Essas são as dúvidas de quem já apanhou 20 anos de governos do PPD/PSD e 12 do PS.