sexta-feira, 6 de junho de 2008

O outro "6 de Junho"

Hoje,a maioria dos comentários sobre o 6 de Junho de 1975 será em tom laudatório.
Bem posso então ser um pouco contra a corrente.
O "Expresso das Nove" de hoje transcreve alguns depoimentos sobre esta efeméride, que resultam na conclusão de que
"Políticos quiseram apagar 6 de Junho da memória"
Ora, lendo com atenção os depoimentos, não causa grande espanto que tenha havido essa intenção.
Vejamos extractos do que dizem alguns dos entrevistados:
Nuno Barata: - (...)"a afirmação da causa independentista nos Açores". "Hoje, ninguém tem dúvidas de que os grandes mentores da manifestação de 6 de Junho eram independentistas e separatistas ou autonomistas de primeira linha".
Saes Furtado (jornalista): - "É um dia que ainda hoje está associado ao despertar dos movimentos independentistas nos Açores, nomeadamente da FLA".
Carlos Melo Bento (um dos presos do 9 de Junho):- "Os independentistas é que se identificavam com o espírito do dia. (...) não lhes convinha identificarem-se com um protesto que esteve ligado à independência. Era meter o dedo na ferida da independência".

Todos são unânimes em considerar que o 6 de Junho tem um cunho independentista.
Quantos eram os independentistas nos Açores?
Ninguém, terá uma resposta exacta, mas a verdade é que esses movimentos recolheram poucos apoios para além de S.Miguel.
Falar do 6 de Junho é falar do 9 de Junho e das vergonhosas prisões decretadas por um senhor que foi há dias condecorado. Já aqui se fez a devida crítica.
Mas hoje é também tempo de lembrar os que foram "deportados" dos Açores,
escorraçados pelos mais fervorosos independentistas, só por serem "portugueses".
(E nesta altura ser-se "português" - para os independentistas significava ser-se comunista!)
Muitos desses eram primeiro açorianos, só que nao defendiam a independência.
Eram portanto "criminosos" á luz do ideal independentista.
É este outro lado do 6 de Junho que também tem de ser lembrado hoje...ou querem apagar apenas parte da história que convém?

4 comentários:

Anónimo disse...

O 6 de Junho foi uma manifestação da lavoura. Só no dia 7 é que o 6 de Junho passou a ser uma manifestação política. Manipulação e aproveitamento,claro, para uma causa que, contrariamente ao que se pretende contruir, não tinha mais do que os adeptos que conserva hoje. Pouco mais ou menos.

Anónimo disse...

V.Exª esqueceu-se de mencionar as agressões que muitos açorianos estavam a ser vítimas.
Por acaso sabe que a sede do MAPA foi assaltada?
Sabe que muita gente honrada foi saneada e apelidada de "fascista" quando dependiam dum ordenado para sustentar a sua família?
Sabe V. Exª que do continente vinham comissários politicos e militares para governarem os açorianos com prepotência e arrogância?
Sabe V. Exª foi feita uma contra-manifestação com o patrocinio do general Altino e com o apoio do PS,PC, MES é até do próprio PPD da altura, que jogava nos dois tabuleiros do PREC?
Não vê V.Exª justeza nos motivos do 6 de Junho?
Não vê que éramos - e claro muito antes do 25 de Abril - considerados como portugueses de 2ª?
Não sabe V.EXª que existe uma carta da ONU que outorga direitos à emancipação dos Povos, neste caso é o "Povo Açoriano"?
Podemos continuar a ser rebocados para um precepício onde Portugal por "motu próprio" também nos leva?
Gostava que V.Exª considerasse também estes quesitos.

Fiat Lux disse...

Ao Milhafre do Atlântico

É claro que sei de tudo isso que fala...e que eu não contestei.
O que fiz foi lembrar que houve
um outro lado do "6 de Junho" que nunca é falado por esta altura.
Quanto aos seus quesitos:

-Houve açorianos agredidos por defenderem a independência...e açorianos agredidos por não a defenderem.
-A sede do MAPA foi assaltada...e foram incendiadas outras sedes,não?
- Muita gente honrada foi saneada por ser "fascista"...e muita gente honrada foi saneada,ou melhor expulsa dos Açores por ser "comunista" (bastava ter sotaque continental!
- Sei dos comissários políticos e militares...e também estive e estou contra essa arrogância, nomeadamente contra as prisões de 9de Junho.
- Soube também dessa contra-manifestação de que fala
- Vejo certamente justeza em alguns dos motivos do 6 de Junho.
- Sei que eramos considerados como portugueses de 2ª ...e até digo mais:hoje ainda somos muitas vezes portugueses de 2ª,mas na verdade actualmente Portugal é um mar de portugueses de 2ª,de Norte a Sul, até às ilhas.Os portugueses de 1ª são um grupo muito restrito.
- Estou de acordo com a expressão "Povo Açoriano", mas não defendo a independência dos Açores.
Uma coisa não obriga à outra,contrariamente ao que alguns querem fazer crer.
- Também concordo que o rumo de Portugal não é o melhor, mas duvido que os Açores independentes tivessem um melhor rumo.

- Como vê procurei considerar todos os seus quesitos.

Uma coisa fica clara. Eu posso respeitar a sua posição e pode respeitar a minha.
Apesar de não defender a independencia dos Açores, não ataquei quem a defende, apenas lembrei alguns factos que aconteceram por essa altura e que raramente são falados.

Em qualquer caso,Obrigado pelo seu depoimento.

Fiat Lux disse...

Expresso das Nove,6 de Junho 2008

"Enquanto director e jornalista, Gustavo Moura manteve sempre a imparcialidade. "Nunca recusei, nos dois jornais que dirigi, a participação de um lado ou de outro. Dava voz a ambos. Mas, nem toda a gente compreende isso. As bombas foram, ao contrário do que se disse na altura, colocadas por membros da FLA, que achavam que eu não os apoiava." A publicação, todos os domingos, de um artigo de opinião de Jaime Gama foi uma das razões que, de acordo com Gustavo Moura, fez com que tivesse sido alvo de uma bomba. "As pessoas não queriam que publicasse. Mas, como nunca alinhei neste esquema tentaram..."