terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

RTP-A, segundo José Jorge Vicente

Parece-me haver aqui muitas verdades.
E parece que o Sr. José Jorge Vicente está muito bem informado.
Vale a pena ler:


[Os equívocos à volta da RTP-Açores
"Vai ficar para o anedotário regional a tirada do dr. Guilherme Costa, garantindo que não é presidente de um clube de futebol. A gente sabia que o ilustre senhor é presidente do Conselho de Administração da Rádio e Televisão de Portugal e não precisava que no-lo lembrasse por intermédio de jornalistas curiosos de confirmar se ele era, de facto, presidente da RTP, incluindo o “periférico” centro de produção açoriano.É que o estado calamitoso a que chegou a RTP-Açores exige do dr. Guilherme Costa a assunção plena do seu cargo e do seu poder de decisão, promovendo a mais urgente das medidas da salvação da televisão regional e que consiste, pura e simplesmente, na substituição do actual director, Pedro Bicudo, por quem saiba e queira fazer melhor.Na verdade, chega a ser indecoroso assacar à falta de meios técnicos e humanos a culpa da desorganização, da instabilidade, da falta de rumo e do desânimo em que mergulhou o mais importante meio de comunicação do arquipélago, ignorando as graves responsabilidades de quem deveria ter dirigido e falhou redondamente, de quem deveria ter reunido consensos e semeou a confusão, de quem se esperava, no mínimo, que mantivesse o nível de aceitação popular da RTP-Açores e, afinal, desbaratou, em menos de dois anos, a boa herança do seu antecessor, o qual, é bom recordar, também se queixava da falta de meios, mas nem por isso deixou de ir sempre aumentando a produção própria e as taxas de audiência do canal.Quem conhece os meandros da RTP-Açores sabe bem que todos os equipamentos não colapsam ao mesmo tempo, nem os quadros de pessoal emagrecem de um momento para o outro, mercê de uma debandada geral que, em boa verdade, não aconteceu. Em alguns sectores, como, por exemplo, na Informação, há mesmo mais gente do que alguma vez tiveram todos os outros anteriores directores.O que há, sim, é o que apontou, e muito bem, uma subcomissão de trabalhadores subitamente desperta para as verdadeiras razões do descalabro. O que há é “incompetência”, assim mesmo, com todas as letras e com um destinatário claro: Pedro Bicudo, o mesmo a que o dr. Guilherme Costa não quer dar destino igual ao dos treinadores que vão, alegremente, de derrota em derrota, pela simples razão de que alega não ser presidente de um clube de futebol.Mas, então, quando vamos ter uma RTP-Açores sem demissões quase semanais, sem sobressaltos, sem parecer que deixou de saber fazer televisão, nem rádio, e sem envergonhar quem ali trabalhou e trabalha? Dirá o dr. Costa que os problemas (que reconheceu existirem, valha-nos a tímida confissão) serão resolvidos com máquinas e pessoas, como se implementar novos tipos de operação e formar trabalhadores se fizesse num passe de mágica, numa semana ou duas, num mês ou dois, ou num tempo suficientemente curto que impeça Pedro Bicudo de liquidar, de vez, o que ainda resta do ânimo e do capital de experiência dos trabalhadores da Televisão e da Rádio, agora amontoados numa amálgama sem sentido nem cobertura legal.Segundo um anúncio comercial, “há coisas fantásticas, não há?”. Pois, a avaliar pelo que se passa na RTP-Açores, há mesmo. Tão fantásticas que o dr. Guilherme Costa, fazendo lembrar os tristemente célebres “inspectores do cacimbo”, que iam às ex-colónias fingir tratar de problemas, veio aos Açores escandalizar-se com a falta de meios e de pessoas na RTP e, no mesmo passo, reiterar a confiança num gestor a quem impôs (pasme-se com tamanha desfaçatez) um tampão no relacionamento directo que com ele deveria manter.De duas, uma: ou o dr. Costa parece pensar que o gabinete recém-criado e ao qual Bicudo deve reportar não constitui uma forma de o manter à distância e, ao mesmo tempo, remeter a RTP-Açores para níveis de autonomia equivalentes ao tempo dos delegados, na década de setenta, ou, então, está a querer chamar-nos de estúpidos.Pela parte que me toca, recuso o epíteto. E também sei interpretar o que ouço e leio, como, por exemplo, a surpreendente confissão de que há problemas nos Açores e que todas as semanas, nas reuniões do Conselho de Administração da RTP, o centro regional estava em cima da mesa.Então, se assim é, não pode invocar o dr. Guilherme Costa desconhecimento dos reais constrangimentos da RTP-Açores, porque são públicos e na praça pública têm sido discutidos. E não pode, por consequência, ignorar a causa primeira de tudo o que vem acontecendo e quem é o seu primeiro e principal responsável.Tem nome o causador da desgraça. Sabe-se quem, sem nexo, mas com suprema arrogância, se vangloriou de ter feito rolar as cabeças dos chefes do tempo de Osvaldo Cabral (as outras, já do tempo dele, foram rolando voluntariamente). E também se sabe quem mandou suspender programas que garantiam razão de ser e audiências à RTP-Açores, para os substituir por enlatados e velharias, tornando quase impossível recuperar a simpatia do telespectador.A RTP-Açores precisa de uma intervenção urgente, feita, a sério, por quem estiver na disposição de resolver o problema com seriedade. O que salvará o canal regional é uma cirurgia e não a caixa de aspirinas que querem dar-lhe.Bem pode o dr. Guilherme Costa ironizar com analogias futebolísticas, que nós já ouvimos piadas bem melhores, e bem pode Pedro Bicudo desdobrar-se em entrevistas e falar de planos mirabolantes em comissões parlamentares, que, agora, só se deixará “levar” quem quiser.É que, já estabelece o aforismo: “Pode-se enganar toda gente por pouco tempo, pode-se enganar muita gente por muito tempo, mas não se pode enganar toda a gente o tempo todo.”

José Jorge Vicente]

(in "Açoriano Oriental", Domingo , 22 de Fevereiro de 2009)

2 comentários:

Anónimo disse...

O Dr. Bicudo tratou de os por a trabalhar.
Deu nisto!
Sarabantam agora os contribuintes, para lhes pagarem a malandrice.

Anónimo disse...

Trabalharam tanto que a maioria dos chefes escohidos, inicialmente, pelo Dr. Bicudo já se demitiu alegando motivos de saúde. Há, com certeza, um virus instalado na sala de reuniões. Trabalharam tanto que a RTP/Açores está repleta de novos produtos na grelha de programação, não é? o que é que há de novo desde a chegada do Dr. Bicudo? Todas as opiniões são validas mas o comentário anterior parece- me extremamente viciado. Informe - se , por exemplo , de quantos chefes há para cada trabalhador. Faça contas, reflicta e comente a seguir. Ninguém se recusa a trabalhar. Só que entre a chamada " equipa líder ", o chamado " grupo de reflexão " e mais meia duzia de tretas implementadas p lo actual director sobram poucos trablhadores.