sábado, 8 de novembro de 2008

I've got mail; A nova língua portuguesa


Cartoon retirado daqui
A NOVA LÍNGUA PORTUGUESA
Desde que os americanos se lembraram de começar a chamar aos pretos 'afro-americanos', com vista a acabar com as raças por via gramatical - isto tem sido um fartote pegado!

As criadas dos anos 70 passaram a 'empregadas domésticas' e preparam-se agora para receber menção de 'auxiliares de apoio doméstico' .

De igual modo, extinguiram-se nas escolas os 'contínuos ' passaram todos a 'auxiliares da acção educativa'.

Os vendedores de medicamentos, com alguma prosápia, tratam-se por 'delegados de informação médica'.

E pelo mesmo processo transmudaram-se os caixeiros-viajantes em 'técnicos de vendas'.

O aborto eufemizou-se em 'interrupção voluntária da gravidez';

Os gangs étnicos são 'grupos de jovens'

Os operários fizeram-se de repente 'colaboradores';

As fábricas, essas, vistas de dentro são 'unidades produtivas'

e vistas da estranja são 'centros de decisão nacionais'.

O analfabetismo desapareceu da crosta portuguesa, cedendo o passo à 'iliteracia' galopante.

Desapareceram dos comboios as 1.ª e 2.ª classes, para não ferir a susceptibilidade social das massas hierarquizadas, mas por imperscrutáveis necessidades de tesouraria continuam a cobrar-se preços distintos nas classes 'Conforto' e 'Turística'.

A Ágata, rainha do pimba, cantava chorosa: «Sou mãe solteira...» ;

agora, se quiser acompanhar os novos tempos, deve alterar a letra da pungente melodia:

«Tenho uma família monoparental...» - eis o novo verso da cançoneta,

se quiser fazer jus à modernidade impante.

Aquietadas pela televisão, já se não vêem por aí aos pinotes crianças irrequietas e

«terroristas»; diz-se modernamente que têm um 'comportamento disfuncional hiperactivo'

Do mesmo modo, e para felicidade dos 'encarregados de educação' , os brilhantes programas escolares extinguiram os alunos cábulas; tais estudantes serão, quando muito, 'crianças de desenvolvimento instável'. Ainda há cegos, infelizmente.
Mas como a palavra fosse considerada desagradável e até aviltante, quem não vê é considerado 'invisual'. (O termo é gramaticalmente impróprio, como impróprio seria chamar inauditivos aos surdos - mas o 'politicamente correcto' marimba-se para as regras gramaticais...)

As putas passaram a ser 'senhoras de alterne'.

Para compor o ramalhete e se darem ares, as gentes cultas da praça desbocam-se em 'implementações', 'posturas pró-activas', 'políticas fracturantes' e outros barbarismos da linguagem.

E assim linguajamos o Português, vagueando perdidos entre a «correcção política» e o novo-riquismo linguístico.

Estamos lixados com este 'novo português'; não admira que o pessoal tenha cada vez mais esgotamentos e stress.

Já não se diz o que se pensa, tem de se pensar o que se diz de forma 'politicamente correcta'.


E na linha do modernismo linguístico, como se chama uma mulher que tenta destruir a educação em Portugal? Ministra !

Antigamente, quando havia democracia, chamava-se Ex-ministra.

6 comentários:

Luísa Silva disse...

Excelente! Sopimpa! Bestial! Assim, descrevo este post. :)))

Nestum disse...

Estava-me aqui a lembrar dos Empregados que agora são Colaboradores.

Anónimo disse...

Muito engraçado na forma, mas disparatado na substãncia. E causa própria ão se deve ser juiz. E ministra, na minha modesa e iliterada opinião, é a melr que já passou pelo lugar. espero sinceramente que tenha long vida....
Francisco da Mata Uriarte

Anónimo disse...

A melhor de todas não foi aqui falada: as cabeleireiras agora são chamadas de técnicas capilares!

Anónimo disse...

E quando é que os deputados passam a chamar-se "técnicos auxiliares de chulança"?

Jordão disse...

Bom post, sim senhor, mas faltou aí os profissionais de socorro – bombeiros!!! ;)