O embaixador João Hall Themido decidiu escrever as suas memórias ("Uma autobiografia disfarçada"). Themido recorda que Kissinger considerava Mário Soares "um tonto", diz que a princesa Diana não sabia dançar e que Aristides de Sousa Mendes é um "mito criado por judeus". E sobre a Base das Lajes conta um episódio que demonstra bem como os Americanos usam e abusam da "sua" Base.
Foto Carlos Aguiar
Base das Lajes
Durante a guerra israelo-árabe de 1973, os EUA "fizeram um ultimato a Portugal. Em termos rudes, foi-nos dado a entender que os Estados Unidos utilizariam a base das Lajes, na ponte aérea para Israel, com a nossa concordância ou sem ela. Compreendendo o alcance da comunicação americana, Marcello Caetano, sem alternativa, respondeu autorizando o uso dos Açores para aquele fim". Meses depois, Hall Themido foi recebido na Sala Oval pelo Presidente Nixon. "A diligência teve a finalidade de, formalmente, me serem apresentados agradecimentos pela atitude cooperante de Portugal na guerra de Yom Kippur. Chega a ser irónico agradecer uma cooperação não desejada e até imposta, mas na vida, como na diplomacia, o cinismo existe!" Hall Themido faz um balanço negativo do acordo das Lajes em termos de benefícios para Portugal e chega a escrever, numa alusão que também parece aplicar-se aos presos de Guantanamo, que "a experiência recente mostra que os americanos actuam como se a base fosse sua, e para sempre". (Expresso)
domingo, 2 de novembro de 2008
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2 comentários:
Há documentação abudante sobre este caso. Houve, de facto, esse ultimato. Eu acrescentaria apenas o facto de Portugal ter passado pelo crise petrolífera que sucedeu a Yom Kippur, nos países que foram cooperantes com os EUA. Eu não era nascido, mas os relatos que ouço dizem-me que mesmo aqui nos Açores a falta de gasolina fez-se sentir.
A importancia geoestratégica dos Açores está bem patente ao longo do séc. XX, não é preciso procurar muito para constatarmos que em todos os principais conflitos foi importante. Agora, houve tempos em que a prioridade era garantir os territórios africanos, e aí as Lajes serviram de garantia. Hoje, as prioridades têm que ser outras, mas não vejo os dirigentes portugueses imporem-se como noutros tempos. Aliás, toda a diplomacia portuguesa parece-me ser sempre subserviente demais, principalmente, diria eu, mudando um pouco o assunto, quando tratamos com as ex colónias. Há um sentimento de culpa que ainda não desapareceu e que, aliás, os próprios países palop fazem questão em manter bem vivo. É apenas uma impressão...
Pois é.
Eu, por exemplo, perdi um primo em Angola.
Deu, como muitos outros, a vida pela sua pátria e ainda há, cá dentro, quem ostensivamente os despreze.
Um bom psiquiatra resolvia muita coisa neste país que esquece os seus herois.
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