Ganhou inúmeros prémios.
Era publicado no DN.
Não perdia um.
Apreciava sobretudo as entrevistas de Anabela Mota Ribeiro.
Recordei esses tempos ao ler a entrevista com Lobo Antunes na "Pública" deste Domingo.
Uma grande entrevista.
Para fintar a amargura e o azedume de Lobo Antunes é preciso ser um grande entrevistador.
Anabela Mota Ribeiro é uma das melhores nessa arte da entrevista.
(Já o tinha demonstado no programa de TV "Falatório").
Se não teve oportunidade de ler, não perca a oportunidade.
Se não quiser ler toda a entrevista, leia pelo menos este extracto. Vale a pena.
- O que é que o reconciliou com a vida? Dantes era recluso, zangado.
- Sempre gostei de viver. Percebo a ideia da sua pergunta.
- Agora comove-se muito mais e fala de ternura.
- É natural, porque passei por uma experiência radical. Foi um preço muito alto, mas talvez pelas coisas boas a gente tenha de pagar um preço alto. Viver é um ofício. Ofício de viver.Pavese. Ele também escreveu: "Virá a morte e terá os teus olhos". Mata-se num quarto de hotel, em Turim.
- Ocorreu-lhe o suicídio?
- Claro que sim, como a toda a gente. Mas mais como devaneio. Em mim é muito clara a consciência da missão.
-Por acaso estava a pensar no período da doença.
-Aí não. Estava a fazer a radioterapia e falava com o cancro: "Morre, morre, morre." Insultava-o. Enquanto na guerra o inimigo está fora e pode matá-lo, aquilo está dentro de si. É uma parte sua que se revolta e a quer destruir. Tive a sorte de ter um bom sistema imunitário e acho mesmo que Santo António me protegeu. É engraçada a relação com Deus. Dantes zangava-me quando via a morte de crianças. Agora já assisto a isso melhor. Como aceito a minha. Que é que vai ficar de mim? Livros. Já não é mau. Já não é mesmo nada mau se eles forem aquilo que eu acho que eles são.
Se admira o trabalho de Anabela Mota Ribeiro e se quiser conhecer melhor o seu percurso, veja aqui como é ela no papel de entrevistada.
Sem comentários:
Enviar um comentário