Cavaco atira borda fora o homem do leme!
O MOSTRENGO
O mostrengo que está acima do insular
Na tarde de névoa ergueu-se a voar;
À roda do hemiciclo voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: «Quem é que ousou entrar
E disse: «Quem é que ousou entrar
Na minha presidência que não desvendo,
Meus decretos guardados lá bem no fundo?»
E os deputados ilhéus disseram, tremendo:
«O Estatuto mais profundo!»
«O Estatuto mais profundo!»
«De quem são as leis com que não concordo?
De quem as alíneas sem o meu acordo?
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e magro.
Três vezes rodou imundo e magro.
«Quem vem buscar o que só eu trago,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse:
E o homem do leme tremeu, e disse:
«O Estatuto mais profundo!»
Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
E disse no fim de tremer três vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer aquilo que é seu;
E mais que o mostrengo, que me tira as cores
E roda nas trevas do fim do mundo,
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me prende aos Açores,
Do Estatuto mais profundo!»
(Adaptação livre, e muito provavelmente inconstitucional, da Mensagem de Fernando Pessoa)
(Adaptação livre, e muito provavelmente inconstitucional, da Mensagem de Fernando Pessoa)
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